O que avaliar ao aceitar emprego em outra cidade

São Paulo – Ser nômade virou competência. Muitas companhias têm projetos de expansão em mercados menos explorados fora das regiões Sul e Sudeste e estão procurando profissionais para ocupar postos nesses lugares. A prioridade é para pessoas que aceitam mudar numa boa. Isso cria uma questão de carreira: vale a pena ser um profissional mochileiro? Talvez sim.

As empresas não estão apenas atrás de um pioneiro que leve o conhecimento da organização a lugares distantes. Muitas vezes, por trás do convite de transferência está uma intenção de desenvolver o profissional. Uma análise da Hewitt, consultoria de recursos humanos, com 107 empresas da América Latina mostra que 79% delas consideram a disponibilidade para mudar de cidade um fator importante para o desenvolvimento de líderes. “Por causa dos custos, hoje as movimentações são mais criteriosas do que no passado e as empresas escolhem as pessoas nas quais querem realmente investir”, diz Thais Blanco, consultora sênior da Hewitt.

Experiência Acelerada

Na Pepsico, múlti de alimentos e bebidas, é comum a movimentação de profissionais tanto entre regiões brasileiras quanto para as 200 subsidiárias no exterior. A mobilidade faz parte do programa de desenvolvimento de carreira da companhia, já que aprimora competências como relacionamento interpessoal, atuação em diferentes mercados, conhecimento sistêmico do negócio e respeito à diversidade.

“Com a transferência, que dura em média três anos, aceleramos o amadurecimento do profi ssional e, dependendo do desempenho, automaticamente oferecemos responsabilidades maiores”, diz Simone Karpinskas, gerente de desenvolvimento organizacional e educação corporativa da Pepsico. O engenheiro Luis Bettanin, de 43 anos, gerente de manufatura para a divisão de salgadinhos da Pepsico, é um desses casos.

Em 2005, quando era gerente de produção da fábrica de Itu, em São Paulo, Luis foi escalado para montar a primeira planta da companhia no Nordeste. “Apesar da insegurança natural, nem pensei em recusar, porque entendi que a empresa estava apostando em mim”, diz. Depois de negociar a mudança em casa, Luis foi com a esposa e o fi lho, de 1 ano, para Recife, em Pernambuco. No começo, estranhou a cultura.

“Cometi alguns erros até aprender que havia diferenças, como o melhor modelo de contratação e a forma mais efi ciente de motivar as pessoas”, diz. Dois anos depois, Luis voltou para Itu com uma promoção. Hoje, vive na estrada para gerenciar as três fábricas pelas quais é responsável, fora as visitas periódicas à sede em São Paulo. “A experiência me ensinou a observar as motivações de cada um e hoje isso me ajuda a gerenciar as minhas diversas equipes”, diz.

Dá para recusar?

No mercado, nem sempre a vontade do funcionário prevalece nessa hora. Muitas vezes, o convite não é realmente opcional, e recusar pode fazer mal para a carreira. Mais do que soar como falta de comprometimento e restringir o aprendizado, a recusa pode limitar o crescimento na companhia e, em último caso, chegar até a demissão, já que o que está sendo dito nas entrelinhas é que a empresa confia no seu trabalho e conta com você.

“Negociar benefícios com a mudança faz parte, mas as empresas estão bem menos tolerantes com as recusas, especialmente quando a mudança é no próprio país”, afirma Thais, da Hewitt. Antes de dar a resposta final, portanto, é preciso avaliar o momento de vida atual. Pergunte-se: “Hoje, minha prioridade é me desenvolver, ganhar dinheiro, crescer na empresa, ou dedicar mais tempo à vida pessoal?”. A resposta é que deve nortear a sua decisão. Um profissional solteiro pode ter aspirações diferentes de outro que acabou de se tornar pai. A partir daí, faça suas escolhas e boa viagem.

Fonte: Exame

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