Talento tem como principal missão doutrinar sobre conceitos, perspectivas e tendências em tecnologia da informação.
A palavra evangelista é associada, na maior parte das vezes, à religião. Mas não em Tecnologia da Informação (TI). Guy Kawasaki, da Apple, popularizou o termo na área. Segundo analistas do mercado, ele foi o primeiro a usar o nome evangelista para definir seu trabalho na empresa de Steve Jobs. Sua missão era convencer a comunidade de desenvolvedores que a plataforma da companhia era a mais adequada para eles.
Por aqui, a expressão é pouco utilizada por carregar significado bíblico, mas o quadro tem mudado e a carreira de evangelista saltou. Está ganhando adeptos e alguns nomes no Brasil já são conhecidos, ajudando a popularizar a profissão.
Cezar Taurion, gerente de Novas Tecnologias Aplicadas/Technical Evangelist da IBM Brasil, é um deles. Desde 2002 ele catequiza empresas e executivos, diz.
Mas o que é preciso para tornar-se um evangelista em TI? Segundo Taurion, é preciso doutrinar sobre conceitos, perspectivas e tendências em tecnologia da informação. “Meu papel não é vender produtos, mas abordar conceitos que estão na mira dos executivos. É como plantar uma semente”, detalha.
Esse profissional, afirma, deve ter boa visão de tecnologia, conhecimento técnico, mas conhecer a aplicabilidade de conceitos e soluções nos negócios. De fato, o evangelista precisa de uma base técnica mais profunda do que alguém da área comercial, por exemplo. “Tem de ser inovador para mostrar que aquela tecnologia pode transformar a empresa”, explica. “Quando eu saio de uma reunião, sei que, de alguma forma, eu tirei o executivo da zona de conforto”, diz.
É preciso ler muito e conhecer tecnologias emergentes, aconselha. “Leio muito material da IBM e de fora para ter uma visão holística. Palestras, eventos, conversas são vitais para agregar conhecimento. Tenho muito contato com universidades e empreendedores”, relata. Ele afirma ainda reservar horas do fim de semana para leitura sobre tendências em TI.
A maior parte do tempo Taurion passa fora do escritório, mas é ainda tarefa do evangelista “levar a palavra” para o público interno. “Participo muito de eventos na IBM para discutir o cenário e falar de tendências”, explica.
Hoje, Taurion diz que tem abordado as megatendências de TI, como consumerização, Big Data, cloud computing e o novo papel do CIO, mais próximo ao board e dos negócios.
Por não ser uma função de massa, como administrador de sistemas, essa figura tem se tornado bastante estratégica para os negócios e está ganhando o selo de carreira emergente.
O evangelista da Amazon Web Services (AWS), José Papo, diz que sua missão é levar a “boa nova de tecnologia” para desenvolvedores e líderes de TI. “Esse talento tem de deter grande conhecimento técnico e falar bem em público”, afirma.
Outro ponto fundamental, prossegue, é gerar conteúdo. “Tenho um blog técnico para publicar novidades, artigos etc. Essa ferramenta é fundamental porque ajuda a espalhar o conhecimento”, relata.
Passar o conhecimento foi, aliás, o que levou Papo a se tornar evangelista. “Trabalhei em muitas consultorias e sempre fui muito próximo de comunidades de desenvolvedores e software. Além disso, sempre gostei de participar de eventos”, assinala.
De acordo com ele, a Amazon enxerga no profissional grande valor para os negócios. “Escutamos muito os clientes e a comunidade. Com isso, sugerimos melhorias que são levadas a sério pela empresa”, ressalta. Agora, prossegue, seu maior desafio é fazer com que o mercado de TI conheça cada mais sobre o conceito de cloud computing e seus benefícios.
E o salário? Segundo ele, o evangelista, por ter conhecimento técnico e veia para negócios, acaba tendo um salário um pouco acima da média do mercado.
Danilo Bordini, gerente de novas tecnologias da Microsoft, afirma que há anos a Microsoft conta com evangelistas para disseminar conceitos e tecnologias da empresa. “Não convertemos companhias e pessoas. Trabalhamos na vanguarda e levamos ao mercado o que há de novo na tecnologia”, explica.
Para quem gosta de tecnologia é uma profissão gratificante. “O dia a dia do evangelista é explicar as tecnologias”, observa. “É como ir a uma floresta com um facão para desbravá-la e depois o time de vendas vai cimentando”, compara.
A Microsoft tem um departamento com cerca de dez evangelistas no Brasil. Todos com perfil bastante técnico e grande poder de comunicação. “Oferecemos, por exemplo, cursos de oratória, já que o dom da palavra faz toda a diferença”, comenta Bordini. Esse profissional, prossegue, não pode ser muito generalistas e conhecer outras tecnologias do mercado.
Fonte: Computer World