Qual a melhor distribuição de Linux?

No início de 2004 fui convidado a publicar no website da revista Geek um texto sobre a sempre presente pergunta: “Qual a melhor distribuição de Linux?”

Minha resposta, traduzida no “Método BR-Linux de seleção de softwares livres”, é ampla, porque acredito que esta pergunta não pode ser respondida de forma definitiva, categórica e específica. A distribuição que é melhor para a secretária do departamento de finanças talvez não seja a ideal para o departamento de desenvolvimento, e nem a que está rodando no servidor de e-mail da empresa. Mas como aparentemente o texto foi retirado do site para o qual foi escrito, publico novamente aqui no BR-Linux.

Veja abaixo a íntegra do texto original, e leia também o texto sobre como adquirir ou fazer download do Linux.

Qual a melhor distribuição de Linux?

Não tenho a menor dúvida de que esta é a pergunta mais frequente na absoluta maioria dos fóruns e listas de discussão sobre Linux do mundo.

Ela pode vir de várias formas. Pode ser genérica ou específica, aberta ou qualificada. O usuário estreante que quer instalar o Linux em seu computador de casa pergunta qual a melhor entre as distribuições que ele viu na banca de jornal. O administrador de sistemas acostumado a outras arquiteturas quer saber qual a melhor distribuição para seu servidor. O usuário que não conseguiu fazer funcionar seu hardware quer saber qual a melhor para funcionar com Winmodems e outros periféricos de projeto exótico. E todos continuam perguntando: qual a melhor distribuição?

Ao contrário de outras perguntas frequentes, esta é uma que costuma ser sempre respondida. Isto porque a maior parte das distribuições possui verdadeiros fã-clubes, com usuários que recorrem a argumentos inflamados para tentar demonstrar mais uma vez, e definitivamente, que a sua distribuição de Linux preferida é a melhor de todas, incontestavelmente a única escolha sensata para instalação, não importando se é para rodar o Oracle em um servidor de 4 processadores, um programa de ensino à distância no Pentium 133 de uma escola ou os ambientes de trabalho da área de marketing de uma multinacional.

Entretanto, como as respostas dos vários fã-clubes se entrechocam, o usuário que fez a pergunta corre o risco de terminar com mais dúvidas do que tinha quando começou. Se a instalação é em um servidor, aparecem três bons argumentos para uso do Debian, mais três para o Red Hat, mais 3 para o Slackware, outros tantos para o SUSE, alguém dirá que o ideal é criar
sua própria distribuição e outros responderão aos demais explicando por que eles não devem usar Debian, Red Hat, Slackware nem SUSE.

Ato contínuo, todos passarão a discutir entre si, buscando argumentos complexos sobre sistemas de gerenciamento de pacotes, dependências, quem é mais antigo, quem é mais livre, quem deu origem a quem e até sobre a vida pessoal dos mantenedores de cada uma das distribuições. Quem ainda não assistiu a este debate em uma lista de discussão?

A questão é antiga, e provavelmente insolúvel. Enquanto tivermos múltiplas distribuições, teremos seus fã-clubes e também os usuários querendo saber qual a melhor. Não há como evitar. Entretanto, os usuários experientes tendem a se importar com a desorientação causada nos novatos por este tipo de confusão, e procuram oferecer conselhos comuns, cheios de bom-senso e relativamente neutros. Sugerem consultar os websites das distribuições, consultar usuários da sua região (se você vai querer recorrer a eles para obter suporte, é bom usar a distribuição que eles conhecem), ou até mesmo experimentar mais de uma até encontrar a que mais se adapta a você.

Mas será que esta é a melhor resposta? Provavelmente sim, se tivermos que dar uma resposta curta. Entretanto, havendo tempo e espaço para elaborar, pode-se dar respostas mais completas, sem indicar alguma distribuição específica – já que em geral não se pode indicar uma distribuição específica sem conhecer exatamente as necessidades e as capacidades do interessado.

Afinal, qual é a melhor distribuição?

Já vi muitas tentativas de resposta a esta pergunta, baseadas nos mais diversos argumentos: uma seria a melhor por ser a mais antiga, outra por ter o maior número de pacotes, outra por dispensar instalação, outra por ser usada pelo próprio Linus Torvalds, outra por ser “a mais parecida com o Unix de verdade” (seja lá o que isso queira dizer), outra por ter um sistema de empacotamento superior, outra por não ter gerenciamento de dependências automático, outra por ser a mais livre, outra por ter o ciclo de atualizações mais longo, outra por oferecer mais documentação…

Como se vê, os critérios são múltiplos, e até mesmo conflitantes: os fãs de uma distribuição acham que a sua é a melhor por oferecer o maior reconhecimento automático de hardware, e os de outra acham que a sua é a melhor de todas porque não tem reconhecimento automático nenhum, deixando tudo nas mãos do administrador do sistema.

Há algumas classificações folclóricas também. Dizem que a distribuição X seria melhor para desktop, outra é a rainha dos servidores, a terceira suporta mais hardware… Embora várias delas tenham méritos em áreas específicas, também não é possível afirmar de maneira genérica que alguma delas seja a líder isolada e incontestável nestas categorias.

Mas estou no meu oitavo ano de participação em listas e fóruns de Linux, e já tive minha quota de entrar nesta discussão infinita. Com o tempo, fui desenvolvendo uma resposta padronizada (e que não menciona nenhuma distribuição específica) para oferecer a quem me pede ajuda para selecionar uma distribuição, e agora vou compartilhá-la com vocês. Use, adapte, copie, modifique, ou simplesmente ignore e continue fazendo tudo como você já fazia. Software livre é assim 😉

O método BR-Linux de seleção de softwares livres

Não é possível responder de forma ampla qual é “a melhor distribuição de Linux” – a melhor sempre será a que atender mais perfeitamente às suas necessidades. A resposta depende do que você pretende fazer com o sistema, da sua capacidade e interesse de administrar o sistema, e até mesmo de sua atitude em relação a algumas questões políticas e filosóficas.

A maior parte das distribuições de Linux consegue disponibilizar o mesmo conjunto de serviços, embora às vezes de maneiras bem diferentes. Algumas já vêm com todos os aplicativos e serviços incluídos nos CDs de instalação, outras exigem downloads e instalações adicionais. Algumas se distinguem por uma ênfase em aspectos específicos do sistema, como a facilidade de configuração, a quantidade de aplicativos, a segurança, a personalização e vários outros.

No site LWN você pode encontrar uma lista atualizada e dividida em categorias das distribuições de Linux, das mais conhecidas às mais obscuras. Já no LinuxISO você encontra links para download de imagens de CD da maior parte delas. E eu mesmo preparei e disponibilizei em br-linux.org/download um guia sobre como fazer o download ou comprar suas cópias do Linux, explicando até mesmo como gravar as imagens de CD que você obteve da Internet – tanto no Linux como no Windows.

E já que são tantas as opções, como escolher uma? O primeiro passo é saber o que recomendam as pessoas a quem você pretende pedir ajuda na hora das dificuldades. Sejam os colegas, ou um grupo de usuários, ou até mesmo um website ou revista, tente descobrir o que eles usam – se a distribuição indicada satisfizer os seus requisitos, poder contar com o suporte deles pode ser interessante.

Em seguida, faça uma lista de perguntas sobre os diversos aspectos que podem ser do seu interesse na hora de selecionar uma distribuição. É claro que eles variam de acordo com seu objetivo: selecionar uma distribuição “para ver qual é a cara desse tal de Linux” no seu micro pessoal é bem diferente do que escolher onde rodar o banco de dados do CRM de uma empresa com 1000 funcionários. Algumas perguntas que você deve tentar responder com a ajuda dos websites das distribuições, das revistas especializadas, da comunidade Linux e (por que não?) com uma mãozinha do Google são:

– Esta distribuição é compatível com todo o meu hardware, infra-estrutura e demais aplicativos já em produção?
– Ela inclui os recursos e pacotes de software de que necessito?
– O processo de instalação e configuração está de acordo com minhas aptidões?
– Ela tem documentação e treinamento em um idioma que eu entendo?
– O suporte prestado (gratuito ou pago) atende minhas necessidades?
– Há uma comunidade de usuários da qual eu possa participar?
– Ela lança atualizações de segurança quando necessário?
– Ela continuará sendo atualizada?
– Ela é livre? É grátis? O preço é aceitável?

Sob um conjunto de critérios objetivos, todas as distribuições podem competir em pé de igualdade, e você pode selecionar a que pontuar melhor nos critérios que fizerem mais sentido para a sua situação específica. Procure as informações, conte os pontos e faça sua escolha!

O mesmo método pode ser aplicado para a seleção de outros softwares livres (SGBDs, servidores dos mais diversos protocolos, ambientes, suítes de escritório, etc.), com adaptações simples e evidentes.

Mas é errado preferir uma distribuição?

Claro que não, todos fazem suas escolhas. Eu mesmo tenho as minhas favoritas, embora não ache que elas sejam as melhores de todas. Conheço pessoas que tentam instalar todas as distribuições possíveis e não se fixam em nenhuma, e outras que são ferrenhas defensoras de alguma distribuição específica.

Mas na próxima vez que alguém lhe perguntar qual a melhor distribuição, pare para pensar: ao invés de simplesmente dizer que a sua preferida é a melhor, que tal ajudar a pessoa a fazer sua própria escolha? Ensinando a pescar, ao invés de simplesmente dar o peixe que estava mais à mão, talvez você preste um serviço de mais valor a quem perguntou – e ao Linux.

Autor: Augusto Campos
Fonte: BR-Linux

Sou bacharel em Sistemas de Informação pela Estácio de Sá (Alagoas), especialista em Gestão Estratégica da Tecnologia da Informação pela Univ. Gama Filho (UGF) e pós-graduando em Gestão da Segurança da Informação pela Univ. do Sul de Santa Catarina (UNISUL). Certificações que possuo: EC-Council CEH, CompTIA (Security+, CySA+ e Pentest+), EXIN (EHF e ISO 27001), MCSO, MCRM, ITIL v3. Tenho interesse por todas as áreas da informática, mas em especial em Gestão e Governança de TI, Segurança da Informação e Ethical Hacking.

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